Achei interessante dialogar com a fala da Ju a respeito do significado - para ela - de datas comemorativas de "final de ciclo", como o Natal e o Ano Novo, a partir do compartilhamento da minha experiência. Acho importante o lugar de fala marcar o espaço de discussão, até mesmo para não criar um processo bipolar (para os que gostam, esquizoide) de incoerência interna, falando da vida e do mundo "em tese" e no plano da mera abstração...
De que serviram as experiências de final de ano para mim?
Refiro-me à introspecção, bem como à desconexão (que não foi forçada) em relação às festas, reuniões de celebrações. Refiro-me igualmente ao supermercado lotado, ao shopping "entupido" de uma egrégora de consumo, enfim, ao que se posicionou diante de mim...a construção de mim projetada.
Refiro-me às pessoas da "nata" brasiliense com 2, 3 carrinhos por família, todos repletos de panetone, pernil, peru, tender, cerveja (muita cerveja) e, claro, muitos decibeis de gritos desesperados por um naco de provolone, disputado a tapa por quem escutasse mais rápido a locução da promotora de ofertas...
Refiro-me ao beneplácito de projeto de "Noite Feliz" e a sensação invulgar de distanciamento que, ao final, trouxe-me para a contemplação solidária do respeito ao que cada um e uma traz para si em termos de convicção, de ideia, de valor.
Se a dinâmica do Natal resumiu-se em comer muito, beber muito e, subrepticiamente dizer que é a comunhão, e não a fanfarra gastronômica e etílica, o "principal" na noite tão feliz..., tudo bem!
Se o clichê em relação ao qual todo mundo concorda - em nível discursivo com a homilia e simplicidade - ainda existe, tudo bem! Se "o Natal é época de humildade e reflexão, MAS vamos comprar um peruzinho, presentinho e uma 'breja' para 'não passar em branco'", tudo bem!!!
Se nos perdoamos para começar tudo de novo no ano seguinte, tudo bem!
Se vamos às festas de família pelo sentido de família, tudo bem também! O que concluo? Que tudo é válido...mas, claro, passa a não ser quando é o ego quem deseja determinar a vida de quem está ao nosso lado... Hahahaha...
Daí nossos espíritos analíticos, repletos de teorias que não melhoram nossa miséria enquanto humanos, ficam o ano inteiro nos massacrando, destruindo a estima uns dos outros, sendo o que existe de mais grotesco em nossa escala de evolução horizontalizada para, num dia, um único dia, "apagar" da memória tudo aquilo, zerar os ponteiros e... uhu!! Legitimar tudo apenas porque...somos nós quem estamos vivendo aquilo que, com hipocrisia, apontamos nos outros como sendo sem valor. Uau!
Não estou criticando o Natal, nascimento de Cristo (apesar de realmente achar que ele NUNCA seria capricorniano) ou a reunião familiar em torno do pinheirinho que, diga-se de passagem, é pagão e NUNCA FOI cristão. [Trata-se do trono de Yule, a tradição que celebramos invertida na roda do ano. Sem deixar de mencionar a "estrelinha" que, sinceramente, é nosso devocional pentagrama, que teve seu nomezinho modificado, para não deixar pistas do nosso paganismo].
E na mentira seguimos, confiantes, mais uma vez, julgando, destruindo, apenas porque se trata do Outro, e não de nosso valor, mesmo nos arvorando de juízos libertários de compreensão crística!
Apenas me deleito em observar a pantomima que o espetáculo da hipocrisia adquire, a cada ano, a partir da exposição de meu próprio ego, que é o primeiro a se manifestar, o primeiro a julgar e, sobretudo, o primeiro a ruir...
Há tempos celebro internamente Litha, não Natal.
Há tempos meu ano novo é em maio. Isso não me faz melhor, ou pior, apenas me faz...É o que sou.
Normal...Anormal? Não sei...
Mas, querem saber? Não sei bem a razão pela qual criamos tantos conceitos, tantas teorias para, ao final, posicionarm-nos diante do mundo em com elas, realizarmos a mesma poda do Outro, com a diferença que se trata... do Outro, e não de nós, numa arrogância existencial ímpar, que nos leva ao fundo do poço.
Por isso, claro, comemoremos, sim, claro, o que faz sentido para nós...
Tudo é válido...menos destruir os sonhos que estão naqueles que nos são mais caros...
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